segunda-feira, agosto 21, 2006

Resta-lhe a subtileza das palavras. É com as palavras que construímos os nossos mundos, é com elas que esgrimimos, que nos defendemos e atacamos (ou nos atacam). Cada contexto da vida tem o seu discurso próprio, que temos de respeitar nas suas linhas gerais. Mas as palavras também nos pertencem, e é com elas que nos construímos. São as nossas palavras que, em cada momento, temos de filtrar cuidadosamente, deixando sair algumas e reservando outras para nós. De resto, também as palavras mostram e escondem simultaneamente, já que nunca nos exprimem na perfeição. Este jogo paradoxal de revelação/omissão ou, se quiser, de verdade/mentira, é inerente às palavras mas difícil de aprender. Se o dominar, use-o em sua defesa.
Aceito que possa ter de omitir ou mentir aos outros, sobretudo quando tentarem invadir o seu espaço pessoal sem que você tenha feito mal a ninguém. Condescendo até que existam assuntos que você não queira saber. Numa sociedade com informação excessiva, parece-me vital saber seleccionar a informação que se adquirir. Mas não se esqueça que está condenado à lucidez. Condenado, sim, porque, se a lucidez é a maior conquista do Homem, ela é também a sua maior tragédia: cada um de nós sabe que há-de morrer. Por isso, evite mentir a si próprio, e não faça como os histriónicos que mentem primeiro a si próprios para se convencerem que são sinceros para os outros.
.
Jose Luis Pio Abreu, Como Tornar-se Doente Mental

2 Comments:

At 1:33 da manhã, Blogger Bruno Martins said...

O livro é realmente muito bom, comprei-o ha tempos num alfarrabista de Lisboa... Acho que por cá é mesmo usado em cadeiras de cursos de psicologia e de psiquiatria

 
At 1:09 da tarde, Blogger Joana said...

O livro e excelente
:-)

 

Enviar um comentário

<< Home